Talvez seja um exagero dizer que a coleção de clássicos que Thiago Furtado ganhou quando criança tenha definido o seu presente, mas é dos livros da infância que ele lembra quando perguntam da sua inclinação pelas letras. Thiago acaba de se matricular no curso de jornalismo da Univali, e o que fará disso ainda pertence ao futuro. No momento, ele escreve poesias.
A veia poética não é uma descoberta recente. Não para ele. Talvez para os amigos, pois apenas em outubro de 2013 Thiago começou a publicar as poesias num Tumblr (espécie de blogue). A primeira saiu num sábado. À noite, havia uma festa de aniversário e um dos convidados elogiou a postagem. “Fiquei me sentindo um escritor”, lembra o auxiliar de topógrafo de 25 anos natural de Tijucas, espantado com o rápido feedback. Agora, Thiago é frequentador das feiras e exposições de arte da região, onde é visto exibindo as suas “Poesias no Varal”.
“O processo de botar [as poesias] na rua foi demorado”, reconhece. Conversei com Thiago num fim de tarde de sexta (12) do último mês de 2014, no Du Cais. Porto Belo é seu destino de quase todo fim de semana: a família tem uma casa no bairro do Perequê, por isso Thiago e a namorada, a fotógrafa Isadora Manerich, estão sempre por aqui.
POEMAS NO VARAL
Mas ele ia dizendo que rabiscou seus primeiros versos no final do ensino fundamental. Na verdade, fragmentos de ideias e tentativas de composição musical, que desviavam sua atenção das disciplinas mais enfadonhas e preenchiam as páginas do final dos cadernos — o “porão”, como ele as chama, e foi daí que tirou o nome da sua página.
Após isso, Thiago “se convidou” para expor algumas poesias no Espaço Bonequiando, no centro de Porto Belo, no último mês de junho. Esticou um varal e pendurou oito poemas datilografados numa Remington 22. “Pensei no lance do cordel e a Isa deu a ideia da máquina”. E o casal gostou tanto da experiência que a repetiu umas dez vezes nos últimos meses. Do porão para o varal. De escritor anônimo a artista expositor.
“A iniciativa é mais importante que a qualidade dos poemas”, acredita Thiago, que no entanto vê valor no seu trabalho. Não fosse isso, certamente jamais o haveria libertado do fundo dos cadernos. O fato é que, ao expor (e se expor), o tijuquense amplia seu círculo, conhece pessoas novas, expediente que valoriza bastante. “Não tem muita gente que para pra ler, mas quando tem algum feedback é muito massa”, destaca.
Seu processo de produção nada tem de sofisticado. O jovem escritor, que antes de prestar vestibular para jornalismo havia cursado direito, engenharia de aquicultura e se formado em gestão ambiental, sem achar muito uso para uma coisa nem outra, lê quase nada de poesia. Também não pensa muito em estrutura, métrica, apenas observa a rima. Pega sua inspiração de frases soltas, sentimentos, e com esses fiapos — muitas vezes gravados em mensagens de voz no celular para não esquecer — dá início à sua feitura poética. “Não tenho isso muito claro. Não sei classificar nada do que eu faço”, diz.
Certo é que aquela coleção de clássicos da literatura infanto-juvenil está no começo dessa jornada. Do gosto pela leitura, estimulado por dona Ieda, orientadora educacional que tratou de incutir no filho essa característica preciosa desde cedo, que redundou no gosto pela escrita. Thiago foi alfabetizado ainda antes de pisar na escola. Só não pôde corresponder à mãe no seu desejo de torná-lo advogado. Tudo bem, pois Thiago fez bom uso das lições.
No futuro um livro, quem sabe… A ideia o assombra: “[A obra] fica mais no mundo material”. E também planos ao lado da namorada, com versos e fotos dividindo espaço, um documentário audiovisual sobre a banda da qual são fãs (Uniclãs) e tantos outros projetos. “Não tenho compromisso com nada”, explica sua falta de pressa em emplacar as ideias. Mas tenha uma certeza: se você for a alguma tertúlia cultural na região, vai encontra o Thiago por ali. E com ele, as poesias no varal.
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